A exaustão física e emocional, mais conhecida como síndrome de burn out, passou a ser estudada em 1974 e ainda hoje é, às vezes, confundida com estresse ou depressão. O assunto foi tema de palestra proferida pela doutora em psicologia pela USP Ana Maria Benevides durante Ciclo de Estudos sobre Meio Ambiente do Trabalho e Saúde do Trabalhador promovido pelo TRT de Goiás no dia 28 de novembro, no auditório do Tribunal Pleno.
A psicóloga, que faz atendimentos clínicos de pessoas diagnosticadas com a doença, explica que ela seria o estresse cronificado ligado ao trabalho, que apresenta características diferentes da depressão. “Seria aquela pessoa que deixou de funcionar por absoluta falta de energia”, esclarece a doutora ao comentar estudos feitos sobre a doença. Ana Maria ressalta três dimensões básicas da síndrome que são a exaustão emocional, a desumanização e a baixa realização pessoal no trabalho.
Mas o que pode levar a isso? A psicóloga explica que o relacionamento entre os colegas pode ser decisivo e a prática do assédio moral pode deflagrar a doença. “As causas e sintomas não são universais pois o mesmo estímulo pode ser ameaçador para uma pessoa e não ser para outra”, assinala a profissional.
Os principais sintomas de pessoas acometidas pela síndrome são a fadiga constante e progressiva, distúrbios no sono, dores musculares, cefaleias, pertubações gastrointestinais, imunodeficiências, transtornos cardiovasculares, distúrbios no sistema respiratório, disfunções sexuais, entre outros. Há também os sintomas psicológicos como a falta de atenção, de concentração, alterações de memória, lentificação do pensamento, sentimento de alienação, de solidão, de insuficiência, baixa autoestima, labilidade emocional, dificuldade de autoaceitação, astenia, desânimo, disforia, depressão, desconfiança, paranoia, irritabilidade.
Segundo a psicóloga os estudos também indicam outros sintomas ligados à atividade desenvolvida pela pessoa como a dificuldade de aceitação de mudanças, perda da iniciativa, aumento do consumo de substâncias, comportamento de alto risco, tendência ao isolamento e sentimento de onipotência, absenteísmo, ironia e cinismo.
Ana Maria Benevides relata na entrevista abaixo as principais características da doença e a possibilidade de prevenir o mal.
A síndrome de burn out é muitas vezes confundida com depressão ou estresse. Por que isso acontece?
Ana Maria Benevides – Acredito que esses processos psicológicos são muito mais conhecidos do que a própria síndrome. Apesar de ela ter sido nominada em 1974, ela passou a ser mais conhecida no Brasil em meados de 1990. Mas mesmo assim muitos profissionais ainda desconhecem.
Quais os princípios fatores que levam a pessoa a ser diagnosticada com a síndrome de burn out?
Ana Maria Benevides – Bem, a síndrome de burn out vai além do estresse. Seria um estresse ocupacional, quer dizer então, próprio do ambiente de trabalho, cronificado. É uma forma de enfrentamento que a pessoa tem para ela conseguir se manter no local de trabalho, apesar de que é um enfrentamento bastante inadequado.
Quais são os principais sintomas da pessoa que está vivenciando essa síndrome?
Ana Maria Benevides – Em geral ela tem uma exaustão emocional bastante elevada, que seria o estresse se manifestando através da síndrome. Ela tem desumanização elevada e reduzida realização pessoal no trabalho. Sendo que normalmente quando ela começou a trabalhar ela adorava o que fazia, ela se sentia muito bem. Ela vai se desgastando à medida em que o tempo vai passando e se sentido cada vez mais não realizada, realmente como se sua energia tivesse acabado, se esgotado.
É possível prevenir essa síndrome?
Ana Maria Benevides – Sim, realmente seria com saúde laboral, prevenindo com um bom local e um bom ambiente de trabalho. A gestão do trabalho é fundamental na prevenção do burn out.
A pessoa que já foi acometida da síndrome. É possível a cura dessa pessoa?
Ana Maria Benevides – Eu diria que é possível um controle. Ela voltar a ter uma vida satisfatória. Mas, assim como o alcoólatra não pode tomar um gole que retorna ao alcoolismo, Ela também vai ter, de certa forma, que tomar muito cuidado porque senão ela volta ao burn out.
Que tipo de pessoa está mais sujeita a desenvolver a síndrome de burn out?
Ana Maria Benevides – Por incrível que pareça, as pessoas mais idealistas, responsáveis, perfeccionistas, empáticas, satisfeitas além da conta com o seu trabalho, que vestem a camisa da empresa, essas estão mais sujeitas ao burn out.
E por que isso?
Ana Maria Benevides – Ah, de certa forma, no ambiente de trabalho se percebe que essa pessoa é um excelente profissional, e as coisas começam a ser colocadas todas para ela e ela acaba tendo uma sobrecarga de trabalho e muitas vezes com muita responsabilidade e muitas vezes sem autonomia pra efetivamente gerir o seu trabalho.
A síndrome de burn out é de fácil identificação?
Ana Maria Benevides – Olha, de uma maneira geral, as pessoas que estão ao redor percebem que essa pessoa passa a ser assim08 intratável. Nem ela mesmo se aguenta. Então ela tenta se conter tanto no ambiente de trabalho como em casa. Mas o problema é que muitas pessoas, até chegar a esse ponto, às vezes não se dão conta da situação, porque a doença é insidiosa, silenciosa, e vai pouco a pouco se estabelecendo.
Fonte: TRT-GO.
Título original: Síndrome de burn out: doença silenciosa que pode comprometer a vida profissional e pessoal do trabalhador.