Mulheres devem ser avaliadas para depressão durante a gravidez e depois de dar à luz, afirmou um painel influente de especialistas ligado ao governo americano. É a primeira vez que o grupo indica o rastreamento para doenças mentais na maternidade.
A recomendação do U.S. Preventive Services Task Force vem junto com novas evidências de que as doenças mentais na maternidade são mais comuns do que se pensava, que muitos casos de depressão pós-parto na verdade começam já durante a gestação, e que, sem tratamento, os transtornos podem causar prejuízos para o bem-estar das crianças.
Estima-se que a depressão durante a gestação ocorra em 13% das mulheres e, no pós-parto, entre 10% e 15%.
Em 2009, esse painel de especialistas já havia afirmado que adultos em geral deveriam ser avaliados para depressão caso os médicos tivessem uma equipe para providenciar tratamento.
Já as novas diretrizes recomendam o rastreamento para adultos mesmo sem essa equipe, considerando que o tratamento para saúde mental está mais disponível, e mencionam a depressão durante ou depois da gestação.
Por anos, ginecologistas e obstetras e outros profissionais de saúde se sentiram relutantes ou inábeis para abordar problemas de saúde como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo com as pacientes.
Mas, caso o profissional não saiba tratar a depressão, a sugestão é encaminhar a paciente a outro profissional, dizem os especialistas.
TABU
Para Joel Rennó, psiquiatra e diretor do programa de saúde mental da mulher do Instituto de Psiquiatria da USP, essa é uma mudança importante porque alguns sintomas psíquicos na gestação, como desânimo, são minimizados ou ignorados durante as avaliações de pré-natal.
“O rastreamento de possíveis quadros de depressão na gravidez levaria à detecção precoce e a consequências menos drásticas”, diz. “Infelizmente, avaliar a saúde mental no período gestacional ainda não faz parte da rotina. Profissionais, inclusive, ignoram quadros psiquiátricos na gestação e se concentram mais no período pós-parto,quando na verdade é um continuum.”
Rennó afirma que ainda existe um tabu com a depressão na gestação. “Não é dado o direito à mulher de ficar deprimida quando ela está grávida, ainda mais quando a gestação é planejada. desejada, sem intercorrências.”
Muitas mulheres também relutam em contar os sintomas para os médicos e por isso a importância do rastreamento, afirma.
“Quem sabe possamos estabelecer um protocolo nesse sentido na rede pública brasileira e padronizar essa avaliação”, diz Rennó, que também coordena a comissão de estudos da saúde mental da mulher na Associação Brasileira de Psiquiatria.
A recomendação americana não especifica quais médicos devem fazer esse monitoramento ou quão frequentemente devem fazê-lo.
Um método efetivo para saber quem está com a doença é aplicar a Escala Edimburgo de Depressão Pós-parto, composta por dez questões e que requer alguns minutos.
Para o tratamento, a sugestão é que se aplique a terapia comportamental cognitiva, já que o uso de antidepressivos durante a gravidez pode trazer sérios danos aos fetos, apesar de a probabilidade disso acontecer ser baixa.
Um outro problema são os efeitos da depressão per se. Entre elas, a geração de problemas de comportamento, instabilidade emocional e dificuldade escolar dos filhos.
Fonte: Folha de S. Paulo.
Título Original: Médicos americanos querem avaliação de depressão antes e depois do parto