Médicos residentes do Reino Unido cruzaram os braços até nos prontos-socorros e UTIs por melhores condições de trabalho nos dias 26 e 27 de abril. Protesto desde que o ministro da Saúde da Inglaterra os obrigou a trabalhar também nos fins de semana no sistema público.
Um fenômeno mundial é a tentativa de reduzir os custos da medicina, arrochando o salário dos médicos, mas a reação dos mais jovens pode ser catastrófica para o sistema. Em qualquer cultura, o médico é um profissional respeitado e quase sempre ocupa uma posição no topo da pirâmide social. Mesmo assim, ele considera-se mal remunerado e sobrecarregado em tarefas, causando descontentamentos frequentes. Para piorar, nas últimas décadas, com o avanço tecnológico a medicina ficou mais cara e a única coluna da planilha de custos que os burocratas enxergam que podem reduzir é a dos salários dos profissionais de saúde.
Na Inglaterra, o ministro da Saúde, perto de ser mandado embora, inovou. Como as estatísticas mostraram que durante os fins de semana havia uma mortalidade maior e grande descontentamento com a qualidade de atendimento público de saúde, decidiu que os NHS, o SUS britânico, funcionaria os sete dias da semana. Decretou que os residentes cobririam esses dias extras. Aumentou o salário, mas aumentou muito mais a carga de trabalho.
O governo inglês ofereceu 13,5% de aumento no pagamento do trabalho extra para quem der mais do que um plantão de fim de semana por mês. Porém, o argumento dos residentes é de que o governo reduziu outros adicionais, e a maior preocupação é a qualidade de atendimento aos pacientes cair. Pois, desde a década de 80 – quando um residente americano cometeu erros que levaram à morte uma paciente por estar estafado, após um longo plantão –, estudos mostram que com mais de 60 horas de trabalho semanais o desempenho do profissional médico piora exponencialmente. Ainda assim, o ministro inglês aumentou a carga horária para mais de 70 horas semanais.
O Capítulo de Médicos Residentes da Associação Médica Britânica (AMB), decidiu pela paralisação completa, uma walkout strike, quando os residentes deixam de atender até nas UTIs e salas de emergência. Uma modalidade inusitada e perigosa de paralisação e, por isso, chamou a atenção do mundo todo.
Segundo um dos representantes dos residentes, não haveria paralisação do atendimento, pois os médicos veteranos supririam a demanda. Mas o governo cancelou nesse período 125 mil cirurgias e atendimentos para poder liberar médicos para as áreas mais críticas.
O ministro da Saúde diz que isso apenas vai postergar a implantação do plano que, argumenta ele, vai reduzir o alto índice de mortalidade dos pacientes que chegam aos hospitais públicos aos sábados e domingos. A adesão à greve ultrapassou os 80% e teve o apoio de mais de 60% da população. Os ingleses ficaram bravos com a greve, mas enlouquecidos com a postura do ministro.
A responsabilidade do erro médico por princípio é pessoal e intransferível. Um profissional da saúde que errar por estafa não pode transferir a responsabilidade ao sistema.
Por aqui, um médico residente ganhava 2,8 mil reais mensais até novembro de 2015, quando, após uma greve, o salário foi aumentado para 3,5 mil reais. Contudo, o salário novo ainda não chegou ao holerite. Mesmo assim equivale a um quarto do salário inglês. A carga de trabalho oficial é de 60 horas semanais, mas usualmente atinge de 70 a 90 horas. E são os residentes que efetuam a maior parte dos serviços críticos e de emergência no atendimento público. Se a moda de greve geral pega…
Fonte: Carta Capital.
Título Original: Quanto trabalha um médico