A superlotação somada à demora nos atendimentos têm feito com que médicos e outros profissionais da saúde que atuam em unidades de prontos-atendimento (PAs) sofram ameaças e agressões físicas e verbais de pacientes. A denúncia é do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo (Simes), que está preparando um dossiê com todas as ocorrências.
O documento será oficializado como denúncia formal ao Ministério Público Estadual (MPES) encaminhado a prefeitos. De acordo com o vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo, Rogenir Roque Rodrigues, o dossiê contêm a realidade enfrentada por esses profissionais.
“Estamos relatando agressões físicas e verbais. O médico trabalha inseguro, sem saber o que pode lhe acontecer”.
Na Grande Vitória, há relatos de agressões, tanto físicas quanto verbais, na UPA de Serra-Sede e Carapina, na Serra; PA do Trevo de Alto Lage, Cariacica; e PA de São Pedro, em Vitória. Segundo Rodrigues, o sindicato recebe diariamente, em média, cinco denúncias anônimas de violência contra médicos.
Advogado especialista em defesa médica, Télvio Valim propõe punição tanto para os autores das agressões quanto para o poder público, na figura do município. “Tendo em vista que o município sujeita os servidores a esses riscos e aos traumas deles decorrentes vamos pedir indenizações na Justiça para esses profissionais”.
O presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Carlos Magno Pretti Dalapícola, orienta que os profissionais façam denúncias tanto ao conselho quanto ao sindicato. “Isso leva as entidades a visitarem os locais e a fazerem relatórios, que serão encaminhados aos gestores e ao Ministério Público Estadual”, explica.
Municípios
O secretário de Saúde de Cariacica, Marcelo Machado, diz desconhecer casos de agressões à médicos e demais profissionais da saúde no PA de Alto Lage. “Não temos agressões físicas relatadas, acontecem com frequência ofensas verbais. A orientação é que o profissional agredido faça um relato na coordenação do serviço de saúde, que será encaminhado à Secretaria de Saúde onde o caso será avaliado”.
Igualmente, o secretário de Saúde da Serra, Luiz Carlos Reblin, afirma que não há casos de agressões físicas à profissionais do município. Ele afirmou que as UPAs da Serra contam com segurança particular e com o apoio da Polícia Militar, “que faz intervenções preventivas”.
A Prefeitura de Vitória informou que a Secretaria de Saúde sempre orienta o registro de boletim de ocorrência em qualquer caso de agressão ou ameaça.
Grupo quebra portas e computador em Alto Lage
Revoltadas com a demora no atendimento no Pronto-Atendimento do Trevo de Alto Lage, em Cariacica, um grupo de pessoas promoveu um verdadeiro quebra-quebra na unidade ontem, por volta das 18h30, e em seguida fechou parte da BR 262 em protesto.
A dona de casa Maria Aparecida Amaro Freire, chegou ao local por volta das 14h em busca de atendimento para o filho, Hércules Amaro Faria, 4, que está com febre há cinco dias, e até o início do tumulto ainda não tinha sido atendida.
“Havia mães esperando desde às 10h. Nos avisaram às 18h que os atendimentos começariam às 20h30, foi aí que nos revoltamos”, disse. Segundo a dona de casa, nem mesmo uma criança que estava tendo uma crise convulsiva recebeu atendimento.
Os pacientes quebraram portas e o computador que fica na recepção do PA. Diante da situação, que é a segunda em uma semana, os médicos abandonaram o posto de trabalho e foram para a delegacia registrar um boletim de ocorrência.
Ministério Público vai investigar violência
Assim como médicos, profissionais da enfermagem têm sido alvos constantes de agressões físicas e verbais na UPA de Serra-Sede. Ontem foi realizada uma reunião entre o Conselho Regional de Enfermagem (Coren) e o Ministério Público Estadual.
Segundo o presidente do Coren, Wilson José Patrício, o Ministério Público instaurou um inquérito cível para investigar a violência e as condições de trabalho dos profissionais.
“O Ministério Público chamou o Coren e a Secretaria de Saúde para essa reunião, onde foram solicitadas ao secretário de saúde providências”. Em nota, o Ministério Público informou que abriu procedimento para apurar as condições de trabalho de profissionais de enfermagem da UPA de Serra-Sede.
“Nos autos deste procedimento, em reunião realizada ontem, a Secretaria Municipal de Saúde informou que já está discutindo com a Secretaria de Defesa Social a readequação de procedimentos de vigilantes existentes nas UPAs”, diz a nota.
Depoimento
Um grupo de cerca de 30 pessoas invadiu a UPA de Carapina, onde atuo, dia 17 de março, por volta das 20h, querendo nos agredir, mas eles não tinham motivos para isso. Os guardas não trabalham armados e logo se evadiram, e não só eu, como profissionais do raio X, técnicos em enfermagem e até o pessoal da limpeza fomos ameaçados. Na confusão partiram para cima de uma médica, eu entrei na frente e não deixei ela ser agredida. Ela se trancou no banheiro e eles ficaram chutando a porta. Eu fui ameaçado de morte, e a confusão só terminou com a chegada da polícia. É muito difícil trabalhar nessa situação.
Fonte: Gazeta.
Título Original: Médicos denunciam agressão de pacientes em PAs superlotados