18 ago 2016

A cultura do “conectado 24 horas” e o estresse

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Somos a geração dos distraídos, o dia todo checando mensagens irrelevantes na caixa de entrada de e-mails e nas nossas páginas na mídia social.

Essa cultura do “conectado 24 horas” ─ exacerbada pelo smartphone ─ está nos deixando mais estressados e menos produtivos, indicam estudos.

“Cerca de 40% das pessoas acordam e a primeira coisa que fazem é checar seus e-mails”, disse à BBC o pesquisador Cary Cooper, da Manchester Business School. Cooper é autor de estudos sobre a relação entre e-mail e estresse no trabalho.

“Para outros 40%, (checar e-mails) é a última coisa que fazem à noite.

Um relatório que investiga a qualidade de vida no ambiente de trabalho, publicado no início do ano pelo Chartered Management Institute ─ entidade britânica que oferece treinamento e suporte para administradores de empresas ─ revelou que a obsessão em checar e-mails fora do horário de trabalho está tornando mais difícil que nos desliguemos nas horas de folga.

O resultado é nossos níveis de estresse estão aumentando.

Mas o que podemos fazer a respeito?

Enxurrada de e-mails

Algumas empresas vêm intervindo para tentar amenizar o problema. Em 2012, o fabricante de automóveis Volkswagen começou a bloquear contas de e-mails de funcionários quando estavam de folga.

Já outra montadora, a Daimler, foi além e permitiu a seus empregados ativar uma funcionalidade pela qual todos os e-mails de trabalho recebidos durante as férias são automaticamente apagados.

E na França, uma nova lei trabalhista que entrou em vigor há algumas semanas incentiva todas as empresas a adotar medidas similares.

O executivo da Microsoft Dave Coplin disse acreditar que ferramentas inteligentes vão aprender quando estamos ocupados e bloquear elertas, esperando até que estejamos menos ocupados para então liberar as mensagens mais relevantes e interessantes.

“A ideia é desenvolver ferramentas que nos ajudem a lidar com a enxurrada de informação”, ele disse. Grande parte do trabalho da Microsoft nesse campo está focado no seu assistente pessoal, Cortana.

Para tentar escapar da tirania do e-mail, outras empresas estão fazendo experimentos com mensagens no estilo das redes sociais.

Auto-ajuda

Algumas empresas de tecnologia acreditam que monitorar o comportamento do nosso computador é o primeiro passo na busca de um melhor equilíbrio entre nossa vida profissional e pessoal.

O pequeno empresário Robby Macdonell, de Nashville, Tennessee, Estados Unidos, disse ter fundado a start-up RescueTime porque ficava frustrado ao ver seus dias desaparecerem sem que ele entendesse por quê. Ele se distraía com muita facilidade.

“Esses alertas são muito bem projetados para capturar sua atenção e estimular as partes do seu cérebro que dizem: ‘Tenho de reagir a isso imediatamente'”, disse Macdonell.

Ele desenvolveu um programa que monitora o tempo que passamos em cada aplicativo e dá a usuários a habilidade de bloquear certos programas durante períodos definidos de tempo.

Da mesma forma, Dajia Zhu, da cidade de Hangzhou, no leste da China, criou o aplicativo StayFocused para ajudar a si mesmo e outras pessoas a ser honestas em relação a quanto tempo estão dedicando a tarefas de trabalho ─ em comparação ao tempo gasto na internet e nas redes sociais.

“Comecei a escrever o aplicativo porque precisava superar meu hábito de adiar tudo”, disse Dajia Zhu.

E se você acha difícil trabalhar em escritórios estilo open plan (sem divisórias), uma solução disponível é o aplicativo ChatterBlocker, que toca sons que neutralizam o ruído do ambiente.

“Eu pessoalmente tendo a me distrair facilmente se outras pessoas estão falando enquanto eu tento me concentrar”, disse o criador do aplicativo, Earl Vickers.

Adrenalina

As chamadas “tecnologias vestíveis” oferecem uma outra maneira de administrarmos o nosso estresse no trabalho, sugerem alguns.

Em janeiro deste ano, como parte de um estudo, o pesquisador Michael Segalla ofereceu monitores biométricos iHealth a alunos do curso de administração de empresas da École des Hautes Etudes Commerciales de Paris (HEC Paris), na França.

A cada dez minutos, os dispositivos em forma de braceletes recolhem informações dos estudantes, como ritmo de batimentos cardíacos, índices de oxigenação no sangue e padrões de sono.

Além de registrar os índices biométricos dos participantes, o estudo também envolve questionários em que alunos relatam seu estado psicológico ─ por exemplo, sentimentos de alegria, ou ansiedade e estresse. A ideia é investigar como a percepção individual de bem estar e os dados biométricos afetam o desempenho acadêmico.

“A triste realidade é que empresas provavelmente gastam mais dinheiro monitorando o estado físico de máquinas do que a saúde física e o bem estar de funcionários”, disse Segalla.

Seguindo o mesmo princípio, a start-up irlandesa Galvanic criou Pip, um pequeno dispositivo branco que mede a perspiração do usuário. Segundo estudos, a perspiração seria um indicador de estresse.

Se o Pip detecta um aumento na transpiração, o aparelho, conectado (sem o uso de fios) ao celular do usuário, toca um jogo curto. Para ganhar o jogo, o usuário tem de relaxar.

A ideia é que, ao fazer isso, a pessoa aprenda a relaxar mais rapidamente no futuro.

Aparelhos como esses dão às pessoas “maior percepção de suas respostas ao estresse, ajudando-as a aprender maneiras de controlá-lo”, disse Ian Robertson, professor de psicologia do Trinity College Dublin, na Irlanda, e consultor científico da equipe que desenvolveu o Pip.

Atenção Plena

Nos Estados Unidos, está na moda a prática da meditação Mindfulness (traduzida por alguns como “Atenção Plena”) como forma de combater os estresses do mundo digital.

Empresas como Google, Target e até a Marine Corps (setor da Marinha dos Estados Unidos) introduziram recentemente sessões de meditação no ambiente de trabalho.

Funcionários da companhia de seguros americana Aetna que recebem uma hora semanal de yoga ou meditação gratuitamente, relataram queda de 30% no seu estresse e melhor qualidade de sono.

A ironia é que a própria tecnologia responsável pela cultura nociva do “sempre ligado” ─ o smartphone ─ pode ser usada de forma efetiva para administrar esses cursos, disse Michael Acton Smith, co-fundador da Calm.com, empresa que oferece cursos de meditação.

Criador do jogo infantil Moshi Monsters, Acton disse que seu curso de meditação ─ que dura sete dias e foi criado em parceria com a praticante de meditação Tamara Levitt, de San Francisco, Estados Unidos ─ tem hoje 5 milhões de usuários.

Ele disse esperar que os usuários de celulares aproveitem momentos passados em filas ou no transporte público para praticar técnicas de respiração e concentração, em vez de conferir e-mails e páginas na mídia social.

Fonte: BBC.

Título Original: Estarmos sempre conectados nos deixa mais estressados no trabalho?

 

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