28 jan 2017

Entenda tudo sobre a Reforma da Previdência

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A reforma da Previdência que se desenha e que pode elevar para 65 anos a idade mínima para a aposentadoria, com 25 de contribuição, e diminui o valor do benefício ao qual o trabalhador será elegível, vai exigir um esforço adicional de poupança do brasileiro. Se a proposta encaminhada pelo governo Michel Temer ao Congresso passar como está, para não ver sua renda minguar na fase do merecido descanso, o trabalhador vai ter que começar a acumular patrimônio mais cedo e cada vez menos contar com o sistema público.

Um exercício preliminar que o consultor financeiro Marcelo D’Agosto fez para o Valor mostra que, para alguém que tenha começado a trabalhar com 25 anos e consiga ter emprego até os 60, contribuindo pelo teto do INSS de R$ 5.190, a poupança necessária só para garantir essa mesma renda até a idade mínima de 65 anos, quando poderá pedir o benefício do INSS, é de R$ 318 mil.

Depois, para assegurar o complemento integral da aposentadoria até os 85 anos – sob a hipótese de que essa seja a sua expectativa de vida – seriam necessários outros R$ 210 mil acumulados. Para conseguir formar esse patrimônio, o aplicador teria que ter reservado R$ 812 do salário mensal em alguma aplicação que rendesse 2% de juro real ao ano.

Num quadro menos pessimista, em que tivesse a carteira assinada aos 30 anos para se aposentar aos 65, o complemento de poupança pessoal seria de R$ 154 mil, com uma reserva mensal de R$ 238. Na melhor das hipóteses, com o primeiro emprego aos 25 e trabalho sem interrupção até os 65, o esforço seria menor, de R$ 126, para um total acumulado de R$ 99 mil.

Em nenhum desses casos, o aposentado teria direito ao teto do INSS. Para essa hipótese pouco realista, teria que trabalhar dos 25 aos 74 anos sem nunca ter ficado sem um holerite mensal.

Já para quem ganha R$ 10 mil e quer garantir ao menos 80% dessa renda na aposentadoria, a ginástica da poupança é ainda maior, com a necessidade de uma acumulação total de mais de R$ 1 milhão no pior dos cenários (veja quadro).

“Na prática, o governo estará privatizando de 10% a 20% da previdência pública”, diz D’Agosto, referindo-se ao complemento de poupança que ficou nas mãos do trabalhador para ter a mesma renda que era assegurada pelo INSS. “A chance de aposentadoria integral é extremamente baixa. A grande lição é que o trabalhador precisará ter disciplina e regularidade para guardar dinheiro”.

A proposta de reforma da Previdência se soma a outras iniciativas do governo para colocar as contas públicas em ordem e ao induzir à estabilidade e até possivelmente à queda da relação dívida/PIB vai permitir que o risco país caia e o Brasil também possa rodar com taxas de juros menores, afirma Felipe Tamega, economista chefe da Itaú Asset Managment.

“Os tempos de juros altos vão chegar ao fim e vai haver uma situação em que as pessoas vão ter que poupar mais para ter um menor nível de rentabilidade e, provavelmente, vão ter que assumir mais riscos ao longo do tempo para formar essa poupança até o momento da aposentadoria”.

Ele acrescenta que a reforma afeta as pessoas em momentos diferentes da vida, com gente na regra de transição e outras ingressando no sistema. “Para cada desses perfis, as necessidades de poupança são diferentes. A mensagem é que a indústria vai ter que gerar produtos adequados para diferentes fases e tipo de investidores”.

O projeto de reforma que começou a ser discutido é agressivo, com reposição salarial abaixo do que imaginava Felipe Bottino, superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros, e é de se esperar que um maior número de pessoas acesse a previdência complementar. Mas esse não será o único caminho. “Depende do perfil, do horizonte do investimento. Se o aplicador quiser ter uma parcela mais líquida, às vezes o melhor é nem ir para a previdência”, diz. “Tem que ser bem estudado porque se entrar para um fundo errado, não entender a regra do plano, pode não ser a melhor alternativa. Talvez os títulos isentos, LCI, LCA, coisas mais curtas, com prazos de 5 a 10 anos”.

O executivo afirma que o setor de previdência complementar evoluiu muito nos últimos anos, e, não por outra razão tem crescido anualmente a taxas de dois dígitos, com o público de alta renda e do “private banking” puxando essa demanda. “São pessoas mais sofisticadas, que exigem maiores retornos, e isso acaba transbordando para as demais segmentações”. Na grade, a Icatu tem, por exemplo, planos com gestão de casas emblemáticas como Verde, Canvas ou Adam Capital ,que aceitam depósitos mensais de R$ 1 mil ou um aporte inicial de R$ 30 mil, com taxas de administração de 2%.

Nos diversos produtos da casa, as taxas variam de 0,7% a 2% ao ano, com um pedágio de saída para os três anos iniciais (3%, 2% e 1%), zerando esse custo depois disso. Bottino sugere que mesmo quem na partida tenha acesso apenas a opções mais caras, revise periodicamente a aplicação, pois a partir de um nível maior de acumulação é possível fazer a portabilidade para alternativas melhores.

O trabalhador vai ter que se programar o mais cedo possível, de preferência desde o início da atividade profissional, para destinar uma parte dos salário para construir uma reserva para a aposentadoria, diz o planejador financeiro Valter Police Junior, associado da Planejar. “Se não fizer isso, ou demorar para fazer, ele não vai conseguir manter o nível de renda que tinha quando estava na ativa”.

Não existe uma regra que valha para todos os perfis, acrescenta, mas ele estima que, na média, quem começa a trabalhar a partir dos 20 anos tem que poupar de 12% a 14% da renda mensal. Já o indivíduo que consegue o primeiro emprego aos 25 anos, precisar destinar 15% a 16% do salário. “É bastante importe fazer ajustes conforme tenha um aumento salarial em idades mais avançadas para compensar, e daí os percentuais têm que subir”

Fonte: Granadeiro Guimarães.

Título Original: Trabalhador precisa poupar mais com reforma.

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