Dor de cabeça, náusea, mal estar e febre de 38,5ºC.
Estes sintomas são indicativos de qual doença? Qual é a hipótese diagnóstica mais provável? Qual seria o tratamento mais indicado?
Há anos atrás, as respostas para estas perguntas seriam dadas por um médico de carne, osso e CRM que, depois de ouvir calmamente a história clínica contada pelo paciente e executar um exame físico cuidadoso, formularia uma hipótese diagnóstica e indicaria o tratamento mais apropriado para o caso. Tudo certo.
Atualmente as respostas às perguntas acima são igualmente dadas por um médico de carne, osso e CRM que também ouve a história clínica e examina o paciente. No entanto, o médico de hoje muito provavelmente também pedirá alguns exames laboratoriais e/ou de imagem para se assegurar da hipótese diagnóstica formulada. Tudo certo também; pois graças a estes recursos os diagnósticos ficaram, de fato, mais precisos.
Mas num futuro não muito distante este cenário pode mudar.
O Google está lançando atualmente um novo modo de buscas: a pessoa digita seus sintomas e o resultado da busca o direciona para um diagnóstico provável.
A novidade é que o ponto de partida serão os sintomas. Exemplo: uma pessoa tem dor nas costas. Entra no Google, digita os sintomas que sente – dor nas costas, febre e cansaço – e a busca resultará nas prováveis hipóteses diagnósticas para aquela dor nas costas.
Importante salientar que, para formatar estas buscas, o Google se instrumentalizou com o conhecimento técnico de um grupo de médicos de renomado e indiscutível valor. Tudo certo e ainda bem.
Mas algumas questões merecem nossa reflexão.
Informar pessoas sobre questões de saúde é mais que uma obrigação: é um dever de todo o profissional da área. O médico deve explicar ao paciente, detalhadamente e em uma linguagem acessível, todas as questões e dúvidas relativas ao seu estado de saúde.
Mais que isso: é inevitável que os pacientes de hoje, com toda razão, busquem nas plataformas digitais mais e mais informações sobre sua doença. Trazem as informações e as discutem com o médico, muitas vezes questionando suas próprias condutas. Muitos médicos se irritam com isso. Saibam: esse é um caminho sem volta. E é muito positivo, uma vez que, em um certo sentido, estes questionamentos são extremamente importantes e valiosos, na medida em que “provocam” o médico e o impelem também a buscar, continuamente, mais conhecimento atualizado.
Médicos que estudam continuamente e que, portanto, estão preparados, não se importam com as questões: respondem-nas com base nos conhecimentos científicos mais atuais. Conversam com os pacientes com tranquilidade e segurança. Está definitivamente enterrada aquela atitude arrogante de outrora, onde o médico era um ser quase onipotente, dotado do conhecimento e do poder inquestionável sobre as condutas médicas a serem “obedecidas”.
Por outro lado, as pessoas também devem ter muito cuidado com as buscas sobre saúde. As plataformas digitais são absurdamente lotadas de informações, com as mais variadas procedências. Corretas ou totalmente erradas, lá estão todas elas. Sem filtro. Sem censura. Tudo certo: nas redes impera a liberdade de expressão e assim deve ser. Mas cabe a todos nós pensar, refletir, peneirar, escolher e avaliar as informações que nos chegam. Com muita crítica, muita exigência e com muito critério.
Informações, todos podemos ter ao alcance de nossas mãos em qualquer lugar e em qualquer segundo do dia ou da noite. No entanto, saber avaliar, discernir e principalmente saber o quê fazer com estas informações é outra história completamente diferente. Ainda mais quando se trata de saúde.
Doenças podem ter o mesmo diagnóstico. Mas hoje se sabe que pode haver tratamentos distintos da mesma patologia para tal ou qual pessoa, de acordo com a avaliação genética de cada um. É assim com alguns tipos de câncer, por exemplo. As doenças podem ser as mesmas. Mas as pessoas que as portam são diferentes. Por isso, o tratamento não é necessariamente igual para todos.
Todos temos na face dois olhos, um nariz e uma boca. No mesmo lugar. Não existe um rosto igual ao outro. Não existe uma pneumonia igual à outra. Não existe uma amigdalite ou uma apendicite igual à outra.
Portanto, é importante ter um médico de carne, osso e CRM responsável pela conduta de cada paciente. Pelo menos ainda é assim.
O Dr Google informa. Tudo certo. Mas ainda não tem CRM.
Fonte: G1.
Título Original: Qual o CRM do Dr Google?