A mineradora britânica Anglo American tenta se levantar do tombo que levou depois que dois vazamentos em sua operação derramaram cerca de mil toneladas de polpa de minério de ferro em um ribeirão no interior de Minas Gerais. Além dos prejuízos financeiros e ao meio ambiente, uma preocupação da companhia é com a saúde mental dos cerca de 500 funcionários que estão parados devido aos vazamentos.
Os acidentes ocorreram em março, e parte das operações da companhia estão paradas desde então, enquanto uma inspeção verifica as condições dos 529 quilômetros de tubulações da empresa. Por conta disso, uma parte significativa da força de trabalho está em layoff – suspensão temporária do contrato de trabalho. São cerca de 500 funcionários, de um total de 3.500 (fora os 3.500 terceirizados).
“É um momento delicado. De repente o funcionário se vê com muito tempo livre e preocupado com as finanças da casa e seu futuro”, afirma o diretor de Recursos Humanos da Anglo American, Carlos Hilário.
Com experiência em processos de layoff de outras companhias, Hilário explica que é comum os funcionários parados terem desentendimentos com a família e problemas com drogas e álcool no período. Para evitar isso, a Anglo American criou um programa, batizado de Lótus, que oferece atividades culturais e de qualificação profissional para quem está sem trabalhar.
Cinema e economia doméstica
O período de layoff da Anglo American pode durar até cinco meses. Pela lei, a empresa precisa oferecer 60 horas mensais de atividades para os funcionários parados. O Programa Lótus envolve atividades extras que não estão na conta das horas obrigatórias.
O programa acontece nas cidades de Conceição do Mato Dentro (MG) e São João da Barra (RJ). Dentre as atividades oferecidas estão cursos de inglês e informática, atividades de voluntariado, sessões de cinema e aulas de economia doméstica e gestão do tempo. Algumas delas são abertas à comunidade.
Além de oferecer alternativas ao ócio, o programa é uma forma de a empresa manter o vínculo com os empregados. “Um período de layoff gera incertezas para os funcionários, eles ficam em dúvida sobre a continuidade do trabalho depois que o layoff acabar. Nosso programa é uma forma de mantermos um contato mais próximo com eles, e mostrarmos que a empresa está presente e logo retomará suas atividades”, diz o diretor de RH.
Ele explica ainda que, como são cidades pequenas, a paralização na companhia não afeta apenas seus funcionários, mas suas famílias e o comércio local.
Durante a paralisação, a Anglo American irá complementar em 100% a diferença entre a bolsa custeada pelo governo (com recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador) e o salário líquido do empregado. A média salarial dos funcionários parados é de 3 mil reais, segundo a companhia.
Para o sindicato da categoria, o melhor cenário seria não fazer o layoff. “Nossa proposta inicial para a Anglo American era que os funcionários ficassem em atividade, fazendo cursos de qualificação”, afirma o presidente do Sindimina-RJ, Iran Santos. Ele também conta que, a princípio, a companhia se propôs a complementar o salário líquido dos funcionários parados em 80%. Após negociação, chegou-se ao acordo dos 100%.
Mesmo assim, os trabalhadores que estão com seus contratos suspensos veem uma redução na renda, explica o sindicalista. Isso porque eles não recebem adicionais como periculosidade ou noturno, e também não recolhem FGTS no período de layoff.
Apesar disso, o sindicalista aprova as atividades oferecidas pela companhia. “Queríamos que não houvesse layoff. Mas, como houve, as atividades são positivas. É mais um incentivo para o trabalhador. É um período difícil, a ociosidade pode levar ao vício, e o dinheiro fica mais curto, o que pode levar à depressão.”
A paralisação acarretará um impacto no Ebitda da Anglo American de 300 milhões a 400 milhões de dólares para o ano de 2018. Segundo a empresa, o programa de atividades para os funcionários e a complementação da renda no período de layoff terão um custo de 8 milhões de reais.
Fonte: EXAME