23 set 2019

Existe relação entre trabalho e suicídio?

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Veja esse mesmo texto em um vídeo do próprio autor:

TEXTO:

Nesse setembro amarelo eu gostaria de comentar sobre a relação entre trabalho e suicídio.

Antes de mais nada: essa relação existe? Podemos atribuir ao trabalho a causa de um suicídio? Em tese sim. Pelo menos foi isso que o governo japonês reconheceu em 2017, quando registrou 208 casos de trabalhadores que deram cabo a própria vida em virtude de situações reconhecidamente ligadas ao trabalho (veja AQUI).

Seria então o trabalho um vilão do crescente número de suicídios no mundo? Tudo leva a crer que não. Fosse assim os relatos de suicídio entre desempregados talvez fossem bem mais raros, o que não acontece. As pesquisas mostram justamente o contrário: que um trabalho saudável, assim como qualquer laço social saudável, é fator de proteção, e não estímulo, ao suicídio.

Nesse momento me recorro a um filósofo, psicólogo e sociólogo chamado Émile Durkheim. Para ele, o suicídio também é um fato social. Sendo assim, se houver a predisposição suicida por parte de algum indivíduo, quanto mais frágeis forem os seus laços sociais, maior é a chance de consumação desse autoextermínio.

Por exemplo, é provado que pais de filhos, especialmente se ainda dependentes, suicidam menos do que pessoas que não tem filhos. Da mesma maneira, filhos que apoiam e sustentam seus pais suicidam menos do que filhos que já perderam os pais. Nessa mesma linha, observamos que os casados suicidam em menor número do que os solteiros, e que os religiosos se suicidam menos do que os ateus (e para Durkheim isso não se deve a questões transcendentais de ordem espiritual, mas meramente pelos laços sociais que são construídos nas igrejas e centros religiosos).

Por último e pelos mesmos fundamentos da força dos laços sociais, observa-se que aqueles que estão no mercado de trabalho suicidam menos do que os desempregados. E dentro do mundo do trabalho, observa-se que aqueles que trabalham em conjunto suicidam menos do que aqueles que trabalham sozinhos, o que torna indiscutível a força dos laços sociais do trabalho como fator protetor do suicídio.

Em suma, o trabalho sim pode ser adoecedor. Mas como regra, ele ainda é um componente que protege contra o suicídio pelos laços sociais que ali se formam, e pelo sentido de existência que muitas vezes ele proporciona.

Reflitamos.

Autor: Marcos Henrique Mendanha (Instagram: @professormendanha): Médico do Trabalho, Especialista em Medicina Legal e Perícias Médicas. Advogado especialista em Direito e Processo do Trabalho. Perito Judicial / Assistente Técnico junto ao TRT-GO e TRF-GO. Diretor Técnico da ASMETRO – Assessoria em Segurança e Medicina do Trabalho Ltda. Autor dos livro “Medicina do Trabalho e Perícias Médicas – Aspectos Práticos e Polêmicos” e “Desvendando o Burn-Out” (ambos da Editora LTr). Coordenador do Congresso Brasileiro de Medicina do Trabalho e Perícias Médicas e do Congresso Brasileiro de Psiquiatria Ocupacional. Diretor e Professor da Faculdade CENBRAP. Colunista da Revista PROTEÇÃO.

Obs.: esse texto traduz a opinião pessoal do colunista Marcos Henrique Mendanha, não sendo uma opinião institucional do SaudeOcupacional.org.a

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