Estresse é um termo bastante comum na linguagem popular. Você, possivelmente, já disse em algum momento que estava estressado, seja com o trabalho, com o chefe, com a equipe, com a rotina…
Na linguagem acadêmica, este fenômeno é chamado de estresse ocupacional e se refere à incapacidade de lidar com as exigências advindas do trabalho e/ou da tarefa desempenhada, ou seja, o estresse ocorre quando você tem problemas em lidar com as demandas excessivas do trabalho e/ou da atividade que realiza.
Mas não ache que você está sozinho! O estresse ocupacional, um fenômeno que se faz presente nas mais diversas empresas e categorias profissionais.
Numa pesquisa realizada entre 2007 e 2014, o ambiente de trabalho foi a segunda maior causa de estresse para os americanos, atrás apenas do fator financeiro. Dados do INSS indicaram que, entre 2000 e 2011, o estresse grave esteve entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil.
Isso porque o estresse está associado a problemas como ansiedade, depressão, rotatividade (turnover) e absenteísmo, baixa produtividade e aumento de acidentes ocupacionais e de custos com saúde, podendo levar à incapacidade e morte dos trabalhadores.
Acontece que a maioria dos estudos sobre estresse ocupacional costuma investigar aspectos da tarefa desempenhada e/ou da pessoa no ambiente de trabalho. No entanto, você já pode ter pensado que gosta do trabalho que faz, que não o acha excessivamente pesado e que mantém boas relações interpessoais com os colegas de trabalho, mas mesmo assim se sente estressado.
Com base neste pensamento e considerando a falta de material sobre o tema, as pesquisadoras brasileiras Pricila Zarife e Maria das Graças Torres da Paz sugeriram a adoção do termo estresse organizacional para abordar o estresse fruto de características da empresa como um todo que, independente da atividade exercida pelos trabalhadores, ocasionam reações de mal-estar de diferentes tipos e intensidades.
Ocorre que determinadas características compartilhadas pela empresa com um todo, ao retirarem de você o controle da situação em que se encontra, podem, por si só, causar estresse.
Com base numa série de pesquisas em empresas de diferentes lugares do Brasil, elaboramos um modelo inicial de estresse organizacional composto por quatro características básicas das empresas que podem causar estresse: (a) decisões organizacionais, (b) suporte, (c) incentivo à competição, e (d) entraves ao crescimento profissional.
As decisões organizacionais envolvem problemas de comunicação na empresa e desconsideração de sugestões dos trabalhadores nas decisões, que podem ser entendidos como elementos estressores. Ocorre que o excesso ou falta de informações pode transformar a empresa num ambiente estressor ao dificultar que as pessoas entendam as mensagens ou possibilitar o surgimento de boatos e insegurança. Quantas vezes você não deixou de olhar a caixa de email pelo excesso de mensagens que recebe da empresa ou ficou com medo gigante de algum boato cabeludo que se espalhou pela empresa?
Ainda, quando não encontramos espaço para propor sugestões, tendemos a nos sentir frustrados e desmotivados, o que, em conjunto com a falta de controle para reverter a situação, pode ocasionar o estresse organizacional. Imagine que você sabe uma forma de obter melhores resultados para a empresa, acha que isso é importante, mas sabe que ninguém vai te dar ouvidos… Isso poderia te desmotivar e trazer frustração, né?
O fator suporte indica que a falta de materiais essenciais à realização das atividades (falta de suporte material) e o incentivo excessivo à cooperação podem ser entendidos como estressores ao dificultarem o bom funcionamento da empresa e estarem fora do nosso controle como trabalhador. Imagine como seria trabalhar numa empresa em que, para a execução de uma atividade, fosse necessária aprovação/participação de todos… Uma demora só!
O incentivo à competição excessiva entre os funcionários e pressão por alta produção também podem ser causadores de estresse. Isto porque proporcionam ambientes de trabalho tensos e pouco saudáveis, tendo em vista o excesso de pressão e responsabilidades demandadas. Imagine que, ao invés de seu amigo, seu colega de trabalho tivesse que se tornar seu mais ferrenho concorrente por causa de políticas da empresa. Pense em todas as “puxadas de tapete” que podem ocorrer num sistema desses e o ambiente aversivo que pode se instalar…
Por fim, empresas que sejam caracterizadas pela dificuldade de crescimento profissional, como quando percebemos desigualdades, falta de recompensas e falta de oportunidades de ser promovido, também podem se tornar ambientes estressores. Imagine que, por mais que você se esforce, não vê igualdade de salários na empresa, muito menos possibilidade de ascensão profissional. Se crescer profissionalmente for importante para você, possivelmente não se sentirá muito bem nesta empresa…
Existe até um instrumento de uso livro, elaborado pelas pesquisadoras para medir o nível de estresse organizacional.
Entender se os trabalhadores da sua empresa percebem estas características como estressoras pode ajudar a desenvolver estratégias para tornar sua empresa mais saudável e produtiva, o que é bom para todo mundo!
Quer ler mais sobre o assunto? Pode entrar em contato ou dar uma olhada nas referências!
Referências:
1. Zarife, P. S. (2016). Cidadania organizacional na perspectiva dos direitos e deveres e sua relação com justiça e estresse organizacional. Tese de Doutorado não-publicada. Universidade de Brasília, Brasília. (http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/20479/1/2016_PriciladeSousaZarife.pdf)
2. American Psychological Association (2015). Stress in America: Paying with our health. Washington: American Psychological Association.
3. Brasil. Ministério da Previdência Social. Coordenação-Geral de Monitoramento Benefício por Incapacidade – CGMBI/DPSSO/SPS/MPS (2014). 1º boletim quadrimestral sobre benefícios por incapacidade. Dia mundial em memória às vítimas de acidentes de trabalho. Brasília, DF.
Fonte: Administradores.
Título Original: Estresse organizacional: quando o estresse é fruto das características da minha empresa e não do meu trabalho