Uma pessoa havia sofrido um acidente quando voava de ultraleve. Estava internada para fazer uma cirurgia na coluna, quando começou a sentir fortes dores na barriga. O médico disse que as dores eram consequência da lesão na coluna. Por sorte o pai desta pessoa, que também era médico, percebeu que aquela dor não podia ser decorrente da lesão na coluna e exigiu que fossem feitos outros exames. E aí se constatou que a dor era proveniente de uma perfuração no esôfago e aquela pessoa estava prestes a morrer de infecção generalizada. Uma psicóloga, que trabalhava em RH e desenvolvimento de pessoas, era extremamente motivada e ativa, quando começou a ficar profundamente desanimada, sonolenta e sem de energia. Foi diagnosticada como estando deprimida. Durante praticamente um ano tomou remédios para depressão e nada de apresentar os menores sinais de melhora, quando finalmente um outro médico diagnosticou que o problema não era de depressão, mas de hipotireoidismo. Estes são apenas dois exemplos dos milhares de erros médicos que acontecem todos os dias.
E na Administração seria diferente? O supermercado Paes Mendonça quando foi negociar a compra da Rede Disco, quebrou. É que o Disco tinha dívidas trabalhistas impagáveis que não foram percebidas pelos negociadores do Paes Mendonça. E Jack Welch, um administrador inegavelmente extremamente competente, quando comprou a empresa Kidder Peabody, cometeu um erro que redundou num prejuízo de 1,2 bilhões de dólares para a GE.
O que deve ser entendido é que existe uma disciplina que é a disciplina das disciplinas e está presente em tudo o que se faz, seja na Medicina, na Administração, na Engenharia, ou seja, lá o que for, que é processo decisório e solução de problemas. E quer queira ou não, tenha consciência ou não, você está sempre decidindo para resolver problemas e aproveitar oportunidades. Isto, entre outras coisas, porque não decidir já é uma decisão. Um estudo conduzido por Paul Nutt, professor da Universidade de Ohio, abrangendo um período de 19 anos com executivos e gerentes de 365 empresas, mostrou que mais de 50% das decisões, de uma forma ou de outra, fracassaram. Reforçando este estudo há a constatação da demissão ou da aposentadoria forçada de um número razoável de CEOs. Só em 2000, por exemplo, foram cerca de 40 em empresas da lista da Fortune 500, tais como Compaq, Gillette, Hewlett-Packard, Xerox e Motorola.
E porque tantos erros são cometidos seja na Medicina, Administração, ou seja lá no que for? Seja na vida profissional, seja na vida particular? É em decorrência de um procedimento clássico, composta basicamente por 4 passos:
1. Análise superficial
2. Decisão apressada e equivocada
3. Justificativa da decisão tomada. A pessoa deixa de pensar e passa a ser um torcedor
4. Ação em função da decisão equivocada
Com relação à análise superficial e decisão apressada, o matemático e filósofo Bertrand Russell considerava que uma grande habilidade humana era a do julgamento adiado e isto importa em poder conviver com a dúvida, como o não saber. E o mega bilionário Warren Buffet atribuía o seu sucesso à sua capacidade de avaliação. Mas o terceiro passo na cadeira de erros é o mais impressionante. É quando a pessoa passa a justificar o erro e passa a torcer pela decisão tomada. Assim, todos os argumentos e pontos fortes que possam justificar a decisão tomada são considerados e exagerados. Os argumentos e pontos fracos que venham a se contrapor à decisão tomada passam a ser ignorados ou desprezados. E com relação às outras alternativas e possibilidades, e que se opunham à decisão tomada, passa a ocorrer o contrário. Os argumentos e pontos fortes favoráveis são desprezados e os argumentos e pontos fracos contrários são exagerados. Ou seja, a pessoa deixa de pensar para se transformar num torcedor. Ou como dizia Thomas Edison: 5 por cento das pessoas pensa, 10 por cento acha que pensa e 85 por cento das pessoas prefere morrer a pensar. E o processo decisório e a solução de problemas são características básicas das pessoas que sabem pensar.
Dois são os fatores que levam as pessoas a não pensar, ou seja, a não decidir e resolver problemas com competência. Um é a falta de habilidade, por desconhecimento do processo. E não adianta saber apenas em termos cognitivos. Uma pessoa pode ler tudo e entender tudo sobre processo decisório e solução de problemas, mas mesmo assim ser um péssimo decisor, pois não se trata apenas de um processo cognitivo, mas sim cognitivo comportamental e assim, hábitos e condicionamentos são fundamentais. É como aprender a dirigir automóvel. Pode-se saber tudo sobre o assunto, e mesmo assim ser um péssimo motorista. Outro são as questões emocionais, ou mais precisamente, os estados mentais e emocionais fracos de recurso. Jack Welch depois de ter tomado a péssima decisão da compra da Kidder Peabody constatou que a razão do seu erro havia sido a arrogância e pôde constatar que a linha que separa a autoconfiança da arrogância é muito tênue. Em suma, tem a ver com o que eu chamo de VOA – vaidade orgulho e arrogância. Assim sendo, toda vez que alguém entrar em estado mental e emocional fraco de recursos vai tomar decisão equivocada. Andrew Carnegie, que foi o rei do aço nos Estados Unidos, sabia disto. Assim, sempre que ia tomar uma decisão importante, primeiro costumava jogar paciência, pois sabia que se estivesse tenso não tomaria uma boa decisão.
Portanto, a capacidade de pensar é fundamental e Buda já sabia disto há muito tempo quando dizia que: “tudo o que somos é resultado do que pensamos”. E pensar importa em processo decisório e solução de problemas. Mas a verdadeira decisão importa em ação. E ai surgem inúmeras dificuldades como a procrastinação e as ações equivocadas e inconsequentes, feitas no impulso e sem a devida preparação. Mas é por estas e outras que Peter Drucker sintetiza: “O produto final do trabalho de um administrador são decisões e ações”. E isto vale para qualquer disciplina, seja Medicina, Administração ou seja lá o que for. Seja na vida profissional, seja na vida particular. E é importante que o administrador tenha perfeita consciência disto, pois como já dizia o Coach John Whitmore, “eu só posso controlar aquilo de que tenho consciência. Aquilo de que não tenho consciência me controla, A consciência me fortalece”.
Fonte: Mapah.
Título Original: ERROS MÉDICOS E ERROS NA ADMINISTRAÇÃO