17 ago 2017

Risco ou fatores de risco psicossociais?

postado em: Coluna do Edu

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O mundo sofreu uma drástica e importante transformação, especialmente nas duas últimas décadas. E essas mudanças não devem parar. Globalização, grande disponibilidade de informação, multifuncionalidade, cargas e pressões frequentes e alta demanda transformaram o mundo do trabalho.

Evoluímos e já controlamos bem os riscos ergonômicos, mecânicos, físicos, químicos e biológicos. Mas como identificar e fazer a gestão dos Riscos Psicossociais, que chamaremos de Fatores de Risco Psicossociais. E porque fatores de risco?

Definiremos Fatores de Risco Psicossociais como “os aspectos da concepção, organização e gestão do trabalho, e seus contextos sociais e ambientais, que têm o potencial de causar dano psicológico, social e físico”.1

No Brasil, segundo a Instrução Normativa INSS nº 98 de 5 de dezembro de 2003, os fatores psicossociais do trabalho são “as percepções subjetivas que o trabalhador tem dos fatores de organização do trabalho”. Como exemplo de fatores psicossociais podemos citar: considerações relativas à carreira, à carga e ritmo de trabalho e ao ambiente social e técnico do trabalho.

A “percepção“ psicológica que o indivíduo tem das exigências do trabalho é multifatorial e resultado das características físicas da pressão, da personalidade do indivíduo, das experiências anteriores e da situação social do trabalho e do trabalhador. Considerando esta dinâmica multifatorial, o termo fatores de risco, parece-nos mais apropriado.

Na maioria dos artigos publicados sobre o mundo do trabalho encontra-se uma tendência a estudar e priorizar a dimensão física da saúde, dando ênfase aos riscos, danos e ao adoecimento físico, aos acidentes de trabalho e as doenças profissionais. Apesar do foco nessa dimensão, não são somente as condições físicas são as variáveis mais importantes para relacionar saúde-trabalho, e também a organização do trabalho – tempos, ritmos, divisão das tarefas e relações sócio profissionais, podem ter um impacto importante.

Além das avaliações das condições ambientais, como o espaço físico, ruído e a ergonomia, precisamos de informações precisas e completas para a identificação dos fatores de risco psicossocial:

  • Características do trabalhador: analisar os perfis diferentes entre os funcionários;
  • Organização do trabalho: carga de trabalho, momentos possíveis de pausa, turnos estendidos, tarefas rotineiras e/ou monótonas;
  • Estilo de liderança e/ou gerenciamento: pouca participação de empregados nas tomadas de decisão, comunicação falha;
  • Relações interpessoais: ambiente social no trabalho;
  • Evolução na carreira: instabilidade de emprego, escassas oportunidades de crescimento e/ou desenvolvimento profissional, mudanças rápidas para as quais os funcionários não estejam preparados.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS)2, o ambiente psicossocial do trabalho inclui a cultura organizacional, bem como atitudes, valores, crenças e práticas cotidianas da empresa que afetam o bem-estar mental e físico dos trabalhadores. Fatores que podem causar estresse emocional ou mental são muitas vezes chamados de “estressores” do local de trabalho. Exemplos de fatores de riscos psicossociais:

  • Organização do trabalho deficiente (problemas com a demanda de trabalho, pressão com relação ao cumprimento de prazos, inflexibilidade nas decisões, recompensa e reconhecimento, apoio da liderança, clareza do trabalho, concepção do trabalho e comunicação deficiente);
  • Cultura organizacional (falta de políticas, normas e procedimentos relacionados à dignidade e respeito para com todos os funcionários, assédio e intimidação, discriminação de gênero, estigmatização devido à condição relacionada ao HIV e outras patologias, a intolerância à diversidade étnica ou religiosa e a falta de apoio a estilos de vida saudáveis);
  • Estilo de gestão de comando e controle (ausência de consultas, negociações, comunicação recíproca, feedback construtivo, gestão do desempenho de forma respeitosa);
  • Falta de apoio para um equilíbrio entre vida profissional e familiar;
    Medo da perda de emprego relacionado a fusões, aquisições, reorganizações ou devido ao mercado de trabalho/economia.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT)3, esclarece que há dois atores psicossociais, por um lado, as interações entre o conteúdo do trabalho e condições ambientais e organizacionais e, por outro, nas competências e necessidades dos trabalhadores. Os fatores de riscos psicossociais também podem ser definidos como algumas características do trabalho que funcionam como “estressores”, ou seja, grandes exigências no trabalho, sempre combinadas com recursos insuficientes.

O local de trabalho caracteriza-se como um importante cenário para manter e melhorar a saúde e bem-estar entre os trabalhadores. Por outro lado, o ambiente de trabalho, em alguns casos, pode levar ao adoecimento do trabalhador4.
Invista na promoção da saúde e do bem-estar.

Leia mais sobre o assunto e quais os custos dos riscos psicossociais.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Cox T, Griffiths A. The assessment of psychosocial hazards at work, in Shabracq MJ, Winnubst JAM, Cooper CL (ed). Handbook of Work and Health Psychology. Wiley & Sons, Chichester. 1995.
WHO, Healthy workplaces: a model for action: for employers, workers, policymakers and practitioners, 2010.
International Labour Organisation [Internet]. Psychosocial factors at work: recognition and control. Report of the Joint ILO/WHO Committee on Occupational Health. Ninth Session, Geneva, 18-24 September 1984. Geneva; 1986 [acesso em 2015 nov. 20]. (Occupational Safety and Health Series, 56). Disponível em: http://www.ilo.org/public/libdoc/ilo/1986/86B09_301_engl.pdf.
EU-OSHA. European Agency for Safety and Health at Work. Psychosocial risks in Europe: Prevalence and strategies for prevention. Office for Official Publications of the European Communities, Luxembourg. 2014b.

Autor (a): Dr. Eduardo Arantes – Médico com especialização em Medicina do Trabalho pela Universidade São Francisco de São Paulo, Ergonomia pela Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais e em Gestão de Saúde pela FGV. Autor dos livros: O Retorno Financeiro de Programas de Promoção da Segurança, Saúde e Qualidade de Vida nas Empresas, Ciências da Vida Humana e o recém-lançado Crônicas de Saúde, Ciência e Cotidiano. Atualmente é Diretor Técnico na Beecorp – Bem Estar Corporativo.

O Dr. Eduardo Arantes escreve mensalmente para o SaudeOcupacional.org, na “Coluna do Edu”.

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