28 jan 2018

Transtornos mentais afastam cerca de 30 mil por ano

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Cargas de trabalho excessivas que consomem a maior parte do tempo, metas pouco realistas, falta de reconhecimento e até práticas de assédio moral e sexual aliadas ao medo da perda do emprego são alguns dos desafios do dia a dia do trabalhador que contribuem para o adoecimento mental, a terceira maior causa de concessão de auxílio-doença e aposentadoria por invalidez no país. Entre 2012 e 2016, 668.927 pessoas foram afastadas do mercado de trabalho por transtornos mentais e comportamentais no Brasil. Em Minas, houve uma média de quase 30.450 afastamentos por ano nesse período. Apesar dos números altos, o trabalhador que está nessa situação ainda sofre rejeição e preconceito.

“Um dos fatores relacionados ao adoecimento mental é o estresse, as reações em situações de tensão e pressão. O trabalho é muito competitivo e visa a metas muito difíceis. A pessoa vai ficando em uma situação de desesperança, ansiedade, perda de sono e tristeza, até chegar à depressão”, analisa a professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Tatiana Mourão.

As mulheres são quase 57% do total de afastados, o que, segundo a Organização Internacional do Trabalho, tem várias explicações, entre elas o papel duplo que elas desempenham em casa e no trabalho, o risco de assédio sexual e a discriminação de gênero. Inclusive, embora a concessão do benefício seja maior entre as mulheres, a duração e o valor médios do benefício são superiores para os homens.

Em Minas, os episódios depressivos e outros transtornos ansiosos são as causas mais frequentes de concessão de auxílio-doença por transtorno mental, com 62.155 afastamentos em cinco anos. Porém, só 7,6% dos casos foram considerados acidentes de trabalho. Conforme a Previdência, isso se deve à “intangibilidade” do adoecimento mental, com sintomas nem sempre visíveis, e à resistência das empresas de reconhecer que têm prejudicado a saúde dos trabalhadores.

Transtornos decorrentes do uso de álcool e de outras drogas também têm alta incidência no Estado – muitos buscam as substâncias no fim do expediente para “relaxar” e ficam dependentes.

Preconceito. A invisibilidade dos sintomas gera outro problema – a exclusão do trabalhador doente. “O adoecimento mental não é palpável e, muitas vezes, é interpretado como preguiça. O que a gente vê é que essas pessoas podem até ser suportadas no período de crise, mas são as primeiras a ser demitidas depois”, analisa a vice-presidente da região Sudeste da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, Letícia Gários.

Há mais de dois anos sem trabalhar por depressão, um agente penitenciário de 34 anos sentiu na pele o preconceito. “Colegas diziam para não demonstrar fraqueza. Rolava até aposta para saber se eu cometeria suicídio”, conta. Ele acredita que problemas pessoais e profissionais foram a causa da doença – chegava a trabalhar 20 horas seguidas.

O preconceito gera subnotificação. “As pessoas pedem para o médico colocar outro motivo de afastamento, e algumas não se afastam. Isso só serve para agravar os quadros”, pontua Letícia.

SUS. O serviço especializado de saúde do trabalhador do Hospital das Clínicas realiza consultas nas terças-feiras, no Ambulatório Bias Fortes, no campus Saúde da UFMG. Os pacientes devem ser encaminhados.

Fonte: O Tempo

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