Mais comuns no exterior, treinamentos ministrados por pessoas da aviação a profissionais de outras categorias têm ganhado público. Isso porque algumas práticas de segurança que são rotineiras na atividade aérea ainda são pouco utilizadas em outros setores.
As principais delas estão ligadas aos conceitos de CRM (sigla em inglês para Gestão de Recursos da Organização), metodologia desenvolvida nos anos 1970, com o objetivo de identificar e evitar eventuais erros humanos durante as operações aéreas.
Segundo Reynaldo Ribeiro, supervisor de segurança operacional da Líder e instrutor de CRM, é aplicável não só à aviação, mas para qualquer atividade profissional, no trânsito, ou mesmo na rotina diária.
Confira abaixo quatro práticas que profissionais da aviação podem ensinar a pessoas de outras áreas:
1) Faça Checklists e siga os procedimentos
Mesmo que já tenham realizado determinada operação milhares de vezes, os pilotos sempre realizam um checklist de todas as ações necessárias para as diversas fases de um voo, item por item. O objetivo é evitar que a familiarização com o procedimento leve ao automatismo. “Em outras áreas, é comum ouvir pessoas dizendo que possuem tanta prática em determinado processo que já o realizam de forma automática. Na aviação, isso é uma fonte de preocupação constante”, explica Ribeiro. De acordo com ele, briefings e checklists detalhados também poderiam ser mais utilizados, por exemplo, em procedimentos cirúrgicos, execução de obras e projetos, sobretudo em momentos críticos à segurança, ou que possam afetar a qualidade final do produto.
2) Seja assertivo na comunicação
Outro tópico fundamental para a segurança de voo é a comunicação clara e efetiva. Em treinamentos de CRM, os profissionais da aviação são instruídos a evitar assuntos não relacionados ao procedimento em curso, sobretudo em momentos críticos da missão , regra conhecida como sterile cockpit (ou cockpit estéril). Além disso, pilotos e controladores de voo devem sempre confirmar se todas as mensagens foram ouvidas e devidamente compreendidas pelo interlocutor. “Na aviação, uma mensagem mal interpretada pode resultar em catástrofe. Mas em outras áreas, como no ambiente corporativo, a distração e a falta de clareza na comunicação também podem causar prejuízos financeiros e atrasar projetos”, lembra Ribeiro.
3) Não use a hierarquia para se proteger de críticas
Nos primórdios da aviação, a relação entre piloto, co-piloto e demais membros da tripulação sofria grande interferência da hierarquia, fator que na aviação ficou conhecido como power distance (ou distanciamento de poder). Profissionais mais jovens eram reprimidos pelos mais experientes e sentiam-se desencorajados a apontar erros ou propor alternativas em momentos críticos do voo, o que resultou em diversos incidentes e acidentes. Para evitar essa situação, os treinamentos CRM passaram a abordar aspectos do relacionamento na cabine. “O objetivo é fazer com que todos reconheçam que não são infalíveis e, a partir daí, entendam o papel e a contribuição que cada um pode oferecer, independentemente da experiência ou cargo”, Explica Ribeiro.
Na área da saúde, por exemplo, muitos hospitais enfrentam problemas parecidos na relação entre médicos e enfermeiros, o que representa um grande risco em situações de emergência, ou nas UTIs. Não por acaso, algumas instituições já começaram conceitos de CRM nas salas de cirurgia.
4) Saiba administrar a fadiga e o estresse
Na aviação, o nível de cansaço e estresse dos pilotos é acompanhado de perto pelas empresas aéreas. As escalas de trabalho dos pilotos e mecânicos são organizadas rigorosamente de modo a oferecer o devido descanso e os profissionais são estimulados a reportar qualquer problema pessoal ou situação que esteja causando desgaste emocional. “Incentivamos os profissionais a compartilharem suas angústias através do canal de RELPREV – Relatório de Prevenção, com o único objetivo de oferecer todo o suporte para que se recuperem”, explica Ribeiro.
Ainda de acordo com o supervisor de segurança, profissionais de outros setores, como o de transporte rodoviário e de operação de máquinas pesadas, poderiam beneficiar-se das rigorosas políticas de gerenciamento de estresse e fadiga adotadas pela aviação. “Infelizmente, em outros setores ainda há empresas que preferem arcar com os custos de um eventual incidente do que investir num acompanhamento mais próximo das equipes”, diz Ribeiro.
Fonte: Blog Líder Aviação (via Grupo ESMTH).